Que ensinamentos o livro do Apocalípse pode oferecer aos cristãos de hoje?



O Apocalipse de João revela-nos, por ser um livro atemporal, um contexto atual de sociedade; contudo, por ser apinhado de códigos e signos faz-se necessário, para melhor compreendê-lo, decodificar seus personagens e conhecer profundamente o processo de caos social que estava estabelecido naquela comunidade. Desta forma, torna-se mais clara para nós a identidade verdadeira deste livro e o seu objetivo específico.
São vários os ensinamentos que o livro do apocalípse pode nos trazer para os dias de hoje; porém, nesta reflexão, nos direcionaremos para a sua mensagem central, a que revela Jesus Cristo como o Senhor da História; o verdadeiro evangelho da justiça e da igualdade, projeto instaurado de Deus. Apontaremos como cerne da mensagem à acusação do autor contra o sistema absolutista e a postura da Igreja que em geral apresenta-se morna, conformada diante da prática política do opressor. João dá esperança àquelas comunidades, reaquece o coração dos cristãos, locus in quo da Igreja, e avisa: É preciso resistir!.

Podemos, hoje, compreender a Besta como os países, e seus representantes, que apresentam uma política cruel – capitalista – diante das nações subdesenvolvidas; o falso profeta passa a ser este próprio sistema desigual, que cativa as pessoas oferecendo-lhes esperanças falsas de oportunidade à prosperidade financeira; como, se esta, fosse a prosperidade crida por Cristo e defendida no evangelho. Este discurso próspero-capitalista faz-nos observar o ponto chave de uma proposta de sociedade corruptível, onde, apenas, alguns têm a oportunidade de prosperar financeiramente; e, que, quando isso ocorre, é porque, estes, já se enquadraram no mesmo projeto político, anticristão, que, no passado, os fizeram oprimidos.

A tristeza, que, a partir deste fato, se estabelece, é por sabermos que o modelo social aplicado, inicialmente, pelas classes dominantes e poderios políticos está presente, em nossos dias, vestido, “por muitos”, de prosperidade cristã. Assim “ressurge”, para nós, o livro do Apocalipse, preocupado em reafirmar e ou reinstituir a figura do Revelado, Nosso Senhor Jesus Cristo. João, em sua visão, chorava, pois não via ninguém capaz de interpretar a verdadeira sociedade desejada por Deus; até que um dos anciãos o consolou dizendo que o rebento de Davi, tendo vencido a “carne”, seria capaz.

A questão primária é que a sociedade que se revela em Cristo não vem sendo utilizada como parâmetro doutrinal, até mesmo, dentro das próprias instituições religiosas; o Apocalipse apresenta-se, também, como esta denúncia.

A possibilidade de oferecer, aos cristãos de hoje, os ensinamentos desse livro está, justamente, na aproximação do contexto social da época, em que vivia João, aos nossos dias; o povo oprimido, sem esperança, perdendo sua identidade etc.; um sistema corrupto gerado pela ambição e o poder, que resulta em guerras e competições; o salário dessa estrutura é pago com a fome e racionamento; um decreto à falência social (Projeto de Deus).

Jesus Cristo, o Reino de Deus instaurado, vem a ser esta esperança para a humanidade nos dias de João (e hoje). O Apocalipse é grande anúncio de que outras bestas já foram destruídas e que as que vierem também poderão ser, desde que nós assumamos uma postura verdadeiramente cristã. Este livro é um verdadeiro chamado à conversão; apresenta-nos, de forma maravilhosa, o evangelho como algo doce na boca e amargo no estômago, ou seja, Deus nos dará a vitória, mas o quanto suportaremos abandonar os nossos medos e anseios da carne para seguirmos o seu projeto; é preciso resistir!

No Apocalipse profetizar tem mais a ver com politizar, no seu sentido mais admirável, isto é, mostrar a verdade; por esse motivo, esse livro foi e é sinônimo de perseguição e morte até os dias de hoje; lutar contra os absolutismos, quer sejam “romanos” ou capitalistas, é aderir a um projeto social divino e aceitar a proposta de sociedade cristã como o único caminho.

João, através do Apocalipse, reapresenta-nos ao Deus da liberdade, um Senhor democrático que nos responsabiliza pela instauração do seu projeto, apresentando-nos nosso julgamento, ou seja, nosso futuro, a partir das nossas próprias opções e decisões (Ap. 20, 13).

Concluo essa reflexão com algumas afirmações de vida e esperança que encontrei neste livro, para os dias de hoje e para sempre:

  • Não podemos, nunca diante das aflições ou frustrações, perder a esperança tornando-nos, assim, “mornos”.

  • Devemos crer, acima de tudo, que a vitória da verdade contra a mentira vem através do anúncio e da prática do evangelho.

  • Viver em abundância é estar em comunhão eterna com Cristo através da construção de uma sociedade justa e igualitária.

  • Todo poder absolutista é um câncer social.

  • O “Todo Poder” de Deus está diretamente ligado às nossas escolhas pela vida, pela liberdade e pelo amor.

  • Sem dúvida alguma, Jesus Cristo é o Senhor da História!

Por Daniel Gomes Ribeiro


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