A atitude farisaica e o Reino de Deus



Assim, por sua bondade para conosco no Cristo Jesus, Deus quis mostrar, nos séculos futuros, a incomparável riqueza de sua graça. É pela graça que fostes salvos, mediante a fé. E isso não vem de vós: é dom de Deus! Não vem das obras, de modo que ninguém pode gloriar-se. (Ef 2, 7-9)

A carta aos Efésios cap. 2 vers. 7, 8 e 9 pode nos ajudar a compor essa resposta, entrelaçando-a com o livro do Apocalipse cap. 2 vers. 4 que nos apresenta essa mesma sociedade em seu paradoxo espiritual; suas obras já não eram movidas pelo “amor primeiro”.  Em João, o amor (obra) é apresentado de forma diferente; nesse, o parâmetro de amor deixa de ser (o próprio) individual e passa a ser o de Jesus Cristo, dizendo: “Eu vos dou um novo mandamento: amai-vos uns aos outros. Como eu vos amei, assim também vós deveis amar-vos uns aos outros. Nisto conhecerão todos que sois os meus discípulos: se vos amardes uns aos outros” (Jo 13, 35). Jesus apresenta o amor ao próximo como uma adesão ao Reino, anulando assim, qualquer indulgência, imposto ou “santidade”. 

“Ai de vós, escribas e fariseus hipócritas! Fechais aos outros o Reino dos Céus, mas vós mesmos não entrais, nem deixais entrar aqueles que o desejam” (Mt 23, 13).

A atitude farisaica é, principalmente, criticada por Jesus pelo simples fato de reconhecerem na obra a sua glória e salvação.  Jesus não apenas condena o tipo de obra praticada, a qual ele chama de hipócrita, mas a sua negação completa ao “primeiro amor”. 
O que aponta uma obra como boa, para Cristo, é ter a condição máxima da nova e eterna aliança com Deus, praticar o evangelho de forma gratuita e sem algum tipo de vantagem, esperança ou detenção ao direito de salvação.  Esse pensamento é bem presente na passagem onde Jesus diz: “Mas ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! pois que fechais aos homens o reino dos céus; e nem vós entrais nem deixais entrar aos que estão entrando“ (Mt 23, 13).
Assim compreendemos que a atitude farisaica é muito perigosa e prejudicial para a vivência do Reino de Deus, pois a condição intrínseca para essa adesão dar-se-á, justamente, sobre a verdade, a liberdade e o amor primeiro, que são o tripé da justiça social; e que esta, por sua vez, está diretamente ligada à aplicação das leis e mandamentos em favor dos humildes e não contra estes (Mt 23, 14). 
Enquanto a interpretação da Lei por parte dos escribas e fariseus estimulava uma religião provocadora do conformismo religioso, de alienação política e desigualdade social, as bem-aventuranças de Jesus, ou seja, sua interpretação da Palavra libertava os homens para “que eles fossem verdadeiramente livres”, fazendo-os rever os conceitos distorcidos de felicidade e “eleição”.
Por essa nova apreciação de felicidade é que se instaurará o Reino de Deus, em que os seus verdadeiros participantes são os humildes, os mansos, os aflitos, os que buscam a verdade, os misericordiosos, os puros de coração, os pacificadores.

Por Daniel G. Ribeiro


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