Alteridade e Escuta





  
No encontro com o outro abre-se a possibilidade de captar dimensões inusitadas desta verdade que é aletheia: permanente desvelamento. O outro é capaz de favorecer a seu interlocutor, no diálogo, a captação de certos aspectos ou dimensões do mistério divino que escapam à sua visada. Há mais verdade (religiosa) em todas as religiões no seu conjunto do que numa única religião, o que também vale para o cristianismo. (TEIXEIRA, p. 6)

     Concordando com Teixeira, percebemos que para que haja à prática do diálogo, faz-se necessário, antes, que os seus interlocutores estejam engajados numa dinâmica de alteridade, ou seja, nutridos de um sentimento de respeito mútuo à identidade pessoal ou confessional dos sujeitos envolvidos (TILLARD, 2001, p. 35-36), valorizando e reconhecendo as suas práticas religiosas e suas experiências de revelação divina (TILLICH, 1968. p. 133). O diálogo pressupõe o aprendizado da alteridade no exercício de honrar, respeitar e ser capaz de reconhecer a riqueza existente nas outras tradições religiosas. Porém, para que o outro aconteça em nós, e para que nós aconteçamos no outro se faz necessário um profundo esvaziamento não do eu, mas de si.
     De acordo com Rosangela Stürmer[1], para que haja o diálogo, é imprescindível o desenvolvimento da escuta, mais do que isso, ela afirma que é uma atitude gentil e respeitosa demonstrar empatia à pregação do outro em relação à exposição da sua doutrina, pois “o conhecimento real do outro se faz através da ótica do outro” (STÜRMER, ano II, n. 15). Stürmer alega, ainda, que “grande parte da violência religiosa é fruto da incapacidade de sair de si” (ibidem, n. 15, et seq).  Neste ponto, STÜMER encontra-se com a lógica de Lévinas, (LÉVINAS, 1993 p. 124) ao afirmar que “só é capaz do diálogo quem se esvazia”, pois aquele que se encontra absoluto, ou seja, cheio de si, não alcança essa dimensão da comunicação (STÜRMER, ano II, n. 15).

            Por Daniel G. Ribeiro


 ___________________________________________________________________
[1] Graduada em Filosofia na Universidade de Passo Fundo-UPF. Mestranda de Teologia na área de concentração: Religião e Educação no Instituto Ecumênico de Pós-Graduação-IEPG na Escola Superior de Teologia-EST em São Leopoldo. Bolsista da CAPEs e integrante do Grupo de Pesquisa “Currículo, identidade religiosa e práxis educativa” da EST e do Grupo de Pesquisa “Religiosidade Popular” do Instituto de Teologia e Pastoral-ITEPA de Passo Fundo.
TILLARD, J. M. Dialogare per non morire. Bologna: EDB, 2001.
TILLICH, P. Le christianisme et les religion. Aubier. Paris, 1968.
STÜRME, R. Diálogo Inter-religioso, Ciberteologia – Revista de Teologia e Cultura. Ano II, n. 15 Disponível...em:<http://ciberteologia.paulinas.org.br/ciberteologia/wp-content/uploads/ 2009/06/01dialogointer religioso.pdf>Acesso em 19 de agosto de 2012
LÉVINAS, E. Humanismo do outro homem, Petrópolis: Vozes, 1993.


Nenhum comentário:

Postar um comentário